Qual a força dos 28 bancos que dominam as finanças do planeta


Marcelo Justo | BBC Mundo | 2 abril 2016

 

A crise mundial de 2008 mudou em quase nada quem são os detentores do poder financeiro global. Quase oito anos depois e em meio a sinais de uma estagnação global, o sistema financeiro do planeta segue dominado por 28 grandes bancos internacionais, chamados por alguns de seus críticos mais ferrenhos de a "hidra".

 

"Os Estados são reféns desta hidra bancária e são disciplinados por ela. A crise prova esse poder", afirma François Morin, autor do livro A Hidra Mundial, o Oligopólio Bancário, professor emérito da Universidade de Toulouse e membro do conselho do Banco Central francês.

 

"Os grandes bancos detinham os produtos tóxicos responsáveis pela crise, mas, em vez de reestruturá-los, os Estados acabaram assumindo suas obrigações - e a dívida privada se transformou em dívida pública."

 

Em seu livro, o pesquisador se concentra em cinco mecanismos que, segundo ele, concedem aos bancos esta hegemonia financeira, econômica e política.

 

1. Ativos

 

Os 28 bancos detêm recursos superiores aos de dívidas públicas de 200 países do planeta. Enquanto estas entidades têm ativos (bens, dinheiro, clientes, empréstimos, entre outros) que somam US$ 50,3 trilhões (R$ 178 trilhões), a dívida pública mundial é de US$ 48,9 trilhões (R$ 173,7 trilhões).

 

Outra forma de dimensionar a questão: há centenas de milhares de bancos no mundo, mas estes [os 28] concentram 90% dos ativos financeiros bancários. Com a hiperconcentração, a queda de um ou mais destes bancos tem um potencial devastador não apenas no setor, mas na economia global.

 

Essa é a base do argumento no centro dos debates depois de 2008: o risco de instituições "too big to fail" (grandes demais para quebrar, em inglês).

 

Segundo Oscar Ugarteche, economista da Universidade Nacional Autônoma do México e autor de A Grande Mutação, que estuda o novo sistema financeiro mundial, com esse nível de concentração do poder financeiro, há "grande possibilidade" de repetição de uma crise como a de 2008.

 

"Estes mercados cresceram com a liberalização financeira dos últimos 30 anos", diz o economista. "Foi com sua participação nos mercados especulativos que se chegou (à crise de) 2008."

 

2. Criação de moeda

 

O sistema clássico de emissão monetária é formado por uma Casa da Moeda que imprime as notas necessárias a um Banco Central, que está posicionado no centro da cena financeira. Mas, hoje, 90% da moeda é criada por estes 28 bancos, e só 10% é de responsabilidade de bancos centrais.

 

A transição do dinheiro físico para o dinheiro creditício está mudando esta equação. "Estamos fechando o círculo. No começo, havia bancos que faziam operações de comércio exterior e interno. Era dinheiro-crédito. Mas não havia controle e centralização desta função", diz Ugarteche.

 

"Isso só começa a acontecer com a criação de um Banco Central responsável pela emissão monetária. O primeiro é o da Inglaterra no século 17. Mas, com a desregulamentação bancária dos anos 1990, estamos voltando ao princípio. Os bancos emitem crédito, e não há muito controle a respeito", afirmou.

 

Se antes a expansão do dinheiro era de certa forma protegida pelo nível de reserva monetária de um país, hoje em dia, este limite perdeu a relevância.

 

Em meio a esta total flexibilização de crédito, a consultoria McKinsey estima que a dívida total - isto é, a soma da dúvida pública, privada e individual - tenha crescido mais de US$ 57 trilhões nos últimos sete anos e, hoje, chega aos US$ 200 trilhões (R$ 710,7 trilhões), cerca de três vezes o PIB mundial.

 

3. Mercado cambial

 

A movimentação no mercado cambial é uma das maiores do mundo: US$ 6 bilhões (R$ 21,3 bilhões) diários. Cinco dos 28 bancos controlam 51% deste mercado.

 

"O câmbio nos Estados Unidos e no Reino Unido não depende das variáveis econômicas de um país. Basta que operadores, vinculados aos bancos, decidam que o valor de uma moeda não se sustenta para que a ataquem especulativamente", diz Ugarteche.

 

"Com compras ou vendas maciças, arrastam o resto dos atores do setor financeiro, provocando uma modificação no câmbio que não tem nada a ver com a saúde econômica de um país."

 

4. Taxas de juros

 

Com seu potencial financeiro, estas 28 entidades têm um peso fundamental sobre as taxas de juros. Dado o nível altíssimo de circulação diária de ativos financeiros e de dívida, qualquer variação da taxa de juros faz girar automaticamente quantidades enormes de dinheiro.

 

Estados Unidos, Grã-Bretanha e Comissão Europeia deram início em 2012 a uma investigação que mostrou como este nível de concentração dos bancos leva a uma manipulação do mercado.

 

Segundo a investigação, 11 dos 28 bancos - Bank of America, BNP-Paribas, Barclays, Citigroup, Crédit Suisse, Deutsche Bank, Goldman Sachs, HSBC, JP Morgan Chase, Royal Bank of Scotland e UBS - se comportaram como "entidades ou grupos organizados" ao manipular as taxas de juros chamadas "Libor".

 

A Libor é fechada diariamente em Londres e determina a taxa com que bancos emprestam. Tem impacto direto no mercado de derivativos e no que é pago por consumidores e produtores para quitar dívidas. "Nada mudou. Um escândalo parecido ocorreu recentemente com Goldman Sachs, Morgan Stanley e JP Morgan no mercado de commodities", afirma Ugarteche.

 

5. Derivativos

 

A metade dos 28 bancos produzem os chamados derivativos por US$ 710 trilhões, o equivalente a dez vezes o PIB mundial. Ugarteche ilustra o funcionamento deste mercado com um ativo financeiro bem modesto: uma vaca.

 

Em outras épocas, ela era vendida em troca de uma quantidade de dinheiro. Mas, hoje, outra opção é possível: uma transação futura.

 

Por exemplo: são vendidos o lucro em potencial que será obtido com o leite da vaca ou os bezerros que ela irá parir. É possível também vender o eventual leite que estes eventuais bezerros possam produzir, caso sejam fêmeas.

 

É um mundo de probabilidades. O bezerro é um futuro possível, nada além disso, assim como outros rendimentos obtidos a partir da vaca. O que acontece se a vaca ficar doente?", questiona Ugarteche.

 

Caso isso ocorra, as operações efetuadas vão para um buraco negro. E foi assim que, em 2008, desapareceram mais de US$ 200 bilhões, o que arrastou em sua queda dispositivos de segurança que supostamente garantiam todo o fluxo de valores financeiros.

 

FONTE DA IMAGEM: https://www.facebook.com/causame.especie/photos/a-hidra-mundial-o-oligop%C3%B3lio-banc%C3%A1rio-28-bancos-no-mundo-controlam-90-dos-ativos/480665608808485/

FONTE DO TEXTO: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/04/160330_bancos_economia_global_fn?fbclid=IwAR009ZzQ1pP_9rKwk7NEG5hCGw8zFiNvR807vhcU4fE-7vww4YUihAt8flY
Capturado em 02/11/2022


Os 28 maiores bancos do mundo

 
J.P. Morgan Chase || Bank of America || Citigroup || HSBC || Deutsche Bank || Groupe Crédit Agricole || BNP Paribas || Barclays PLC || Mitsubishi Ufjfg || Bank of China || Royal Bank of Scotland || Morgan Stanley || Goldman Sachs || Mizuho FG || Santander || Société Générale || ING Bank || BPCE || Well Fargo || Sumitomo Mitsui FG || UBS || Unicrédit Group || Crédit Suisse || Nordea || BBVA || Standart Chartered || Bank of New York Mekon || State Street

FONTE DA LISTA: https://jornalggn.com.br/economia/oito-anos-depois-da-crise-28-bancos-dominam-sistema-financeiro-global/
Capturado em 02/11/2022