Adam Smith (1723-1790) foi na verdade um filósofo social, não um economista.


ADAM SMITH

Época, vida, filosofia e obras de Adam Smith - Parte I

 

Época. Adam Smith é um dos filósofos do chamado "Iluminismo Escocês", que teve centro na universidade de Glasgow. Nasceu à época de George I, filho do eleitor de Hanôver e de Sofia, neta de Jaime I da Inglaterra, sucedido, em 1727, pelo filho George II. Os direitos de sucessão dessa dinastia haviam sido investigados e comprovados por Leibniz, quando esteve a serviço do eleitor de Hanôver.
A Inglaterra de seu tempo vivia seu período de grande atividade marítima, que antecedeu a Revolução Industrial. Porém, na mesma época esteve imersa em duas guerras: a da Sucessão da Áustria e a Guerra dos 7 anos, esta última envolvendo a França, a Áustria e a Rússia contra a Prússia, que pretendia direitos sobre a Silésia e teve o apoio dos ingleses.

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Duas grandes revoluções fruto do pensamento iluminista têm lugar durante a vida de Smith: a revolução americana e a revolução francesa. Na primeira, a França ajuda os americanos na guerra pela independência, contra os ingleses, que foram derrotados em Saratoga em 1777; o tratado de Versalhes de 1783 reconhece a independência americana, restitui a Flórida à Espanha e o Senegal à França. Na segunda, triunfam as ideias dos enciclopedistas franceses, principalmente as de Rousseau, que levam à instalação da república na França, em 1789.
Conhecido por sua obra principal, An Inquiry Into the Nature and Causes of the Wealth of Nations ("Uma Investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações"), de 1776, Adam Smith foi na verdade um filósofo social, não um economista. Quando se examina o contexto de seu pensamento que inclui o seu The Theory of Moral Sentiments ("A Teoria dos Sentimentos Morais"), de 1759, além da obra que almejava publicar sobre os princípios gerais da lei e do governo e as diferentes revoluções que ocorreram em diferentes épocas e períodos da sociedade, vê-se que sua obra prima "Riqueza das Nações", não é meramente um tratado de economia mas uma peça dentro de um sistema filosófico amplo que parte de uma teoria da natureza humana para uma concepção de organização política e de evolução histórica.

Vida:

Adam Smith, filho de outro Adam Smith e sua segunda mulher, Margarete Douglas, foi batizado em 5 de junho de 1723 em Kirkcaldy. Esta era uma pequena cidade portuária na margem norte da enseada de Firth of Forth no mar do Norte, pertencente ao condado de Fife, próxima a Edimburgo, importante pelo comércio de sal. Seu pai era fiscal da alfândega e sua mãe era filha de um bem aquinhoado proprietário de terras. Em sua época o Reino Unido (Inglaterra unida à Escócia desde 1707) vivia o período de grande atividade marítima que antecedeu a Revolução Industrial.
O único episódio conhecido da infância de Smith é que aos quatro anos foi raptado por ciganos e, devido à intensa busca que foi organizada, abandonado por eles e recolhido a salvo.. Recebeu educação primária em Kirkcaldy e, na idade de 14 anos, em 1737 (ano em que David Hume publica "Tratado da Natureza Humana"), entrou para a Universidade de Glasgow. Esta universidade, centro do que depois seria chamado Iluminismo Escocês, fora fundada por bula do papa Nicolau V em 1451, a pedido do rei Jaime II da Escócia. Ao tempo de Smith a universidade ficava em High Street e somente cerca de cento e trinta anos depois seria mudada para seu sítio atual, no extremo oeste de Glasgow. No universidade Smith foi profundamente influenciado pelo seu professor de filosofia moral, Francis Hutcheson.
Depois de graduar-se em 1740, Smith conseguiu uma bolsa para estudar em Oxford, para onde foi a cavalo e onde se hospedou no Balliot College. Encontrou em Oxford um ambiente atrasado, em contraste com a estimulante atmosfera de Glasgow. Ensino ruim e retrógrado a ponto de lhe confiscarem o "Tratado" de David Hume, visto que nele Hume negava o princípio de causa e efeito, o que invalidava a prova da existência de Deus como causa última necessária. Em Oxford Smith praticamente promoveu uma autoeducação em filosofia clássica e contemporânea.
Retornando à Escócia após seis anos, Smith ficou à procura de emprego. É nesta ocasião que recebe apoio do filósofo e jurista Lord Henry Home Kames (1696-1782) um pensador melhor conhecido pelo seu Elements of Criticism, 3 vol. (1762), um trabalho notável na história da estética pela tentativa de igualar o belo ao que é agradável aos sentidos naturais da vista e da audição. Suas outras obras incluem Essays on the Principles of Morality and Natural Religion (1751), temas que Smith certamente apreciava.
Devido às boas relações da família de sua mãe, juntamente com o apoio de Lord Kames, abriu-se para Smith a oportunidade para uma ocupação provisória, paga, de conferencista público em Edimburgo. Esta era uma atividade nova, prevista no novo sistema de educação em voga como parte do espírito de progresso que prevalecia na época.
Suas conferências, que cobriam ampla gama de assuntos desde retórica a história e economia, causaram profunda impressão em alguns dos grandes contemporâneos de Smith. Isto foi decisivo para sua própria carreira, porque resultou daí ser nomeado em 1751, na idade de 27 anos, professor de lógica na Universidade de Glasgow. Desse posto ele se transferiu no ano seguinte para o professorado melhor remunerado de filosofia moral, que na época compreendia os campos relacionados de teologia natural, ética, jurisprudência e economia política. Essa mesma cadeira havia sido pleiteada em 1744, por Hume, que havia publicado, em 1741, os Ensaios Morais e Políticos, mas lhe foi negada sob o pretexto de ser ele herege, e "notório infiel". Com a transferência de Smith para a filosofia moral, fez-se então uma tentativa para que Hume fosse indicado para a cadeira de lógica que Smith deixava vaga. Porém Hume (que depois se tornaria amigo íntimo de Smith) não obteve a cátedra. O rumor de ateísmo prevaleceu novamente.
Membro da faculdade, Smith entrou em um período de intensa atividade. Além de lecionar pela manhã, ocupava-se de assuntos acadêmicos e administrativos na parte da tarde, tudo isto combinado com uma também intensa vida intelectual e à noite o estimulante convívio com a sociedade de Glasgow. Suas aulas eram em inglês, uma novidade introduzida pelo falecido professor da mesma disciplina, Francis Hutcheson. Foi eleito reitor em 1758. Ele considerou esse período o mais feliz e nobre de sua existência.
No seu circulo de amizades contavam-se, além da nobreza e altos funcionários do governo, também uma variedade de figuras das ciências, da filosofia e letras, como o químico Joseph Black, o engenheiro inventor da máquina a vapor James Watt, Robert Foulis, um grande editor, e David Hume, que Smith conheceu em Edimburgo quando voltou de Oxford, e que se tornou um amigo para o resto da vida.
Entre seus amigos tinha mercadores ocupados com o comércio colonial que se intensificara na Escócia a partir do ato de união com a Inglaterra. Nos entretenimentos sociais, discutiam economia e estes comerciantes o colocavam a par dos movimentos de mercado com aquelas informações detalhadas que Smith apresentará no livro "Riqueza das Nações".
Em 1759 publicou seu primeiro trabalho já referido, "A Teoria dos Sentimentos Morais", em que toma uma natureza humana imutável como base para as instituições sociais. Aquela é dominada pelas paixões e os instintos de autopreservação e auto interesse, porém controlada por uma capacidade de simpatia, - outro instinto -, e por uma presença interior que aprova ou desaprova as ações do indivíduo. Essa estrutura joga os homens uns contra os outros, mas lhes dá também a faculdade de criar instituições através das quais esse conflito é mitigado e transformado em bem social. Este primeiro trabalho já expressa o pensamento, que repetiria depois no "Riqueza das Nações", que "os homens voltados para seus próprios interesses são conduzidos por uma mão invisível... sem saber e sem pretender isto, realizam o interesse da sociedade".
O "A Teoria" tornou-se lido e conhecido, e em particular atraiu a atenção de Charles Townshend, um político importante a quem interessavam as questões canônicas, ele mesmo historicamente vinculado às medidas de taxação que provocaram a Revolução Americana. Townshend havia se casado recentemente e buscava um tutor para seu enteado e tutelado, o jovem duque de Buccleuch. A empenhada recomendação de Hume e sua própria admiração pelo autor de "A Teoria dos Sentimentos Morais", levaram-no a propor a função a Smith com a oferta de um salário acima do que Smith ganhava na universidade.
O "A Teoria" tornou-se lido e conhecido, e em particular atraiu a atenção de Charles Townshend, um político importante a quem interessavam as questões canônicas, ele mesmo historicamente vinculado às medidas de taxação que provocaram a Revolução Americana. Townshend havia se casado recentemente e buscava um tutor para seu enteado e tutelado, o jovem duque de Buccleuch. A empenhada recomendação de Hume e sua própria admiração pelo autor de "A Teoria dos Sentimentos Morais", levaram-no a propor a função a Smith com a oferta de um salário acima do que Smith ganhava na universidade.
De Toulouse foram para Genebra, onde Smith encontrou-se com Voltaire, – por quem ele tinha o mais profundo respeito –, e de lá seguiram para Paris, onde Hume, então secretário da embaixada britânica, apresentou Smith aos grandes salões literários do Iluminismo francês. Lá ele encontrou um grupo de reformadores sociais e teóricos da economia, encabeçados por François Quesnay. Muito impressionado pelas ideias de Quesnay, iria dedicar a ele o "Riqueza das Nações", não tivesse o economista francês falecido antes da publicação. A permanência em Paris foi, porém, abreviada por um acontecimento chocante. O irmão mais jovem do duque de Buccleuch, que se juntara a eles em Toulouse, foi assassinado na rua. Smith e seu pupilo imediatamente retornaram para Londres.
Smith trabalhou em Londres até a primavera de 1767 com Lord Townshend, um período durante o qual ele foi eleito membro da Royal Society e ampliou ainda mais seu círculo intelectual incluindo, Edmund Burke (1729-1797), estadista britânico de origem irlandesa, figura proeminente no cenário político entre 1765 e 1795, importante na história da teoria política pela sua crítica ao jacobinismo na França e pela sua definição de partido político: um corpo de homens unidos em espírito público, que age como um elo constitucional entre o rei e o parlamento, dando consistência e força na administração, ou crítica fundamentada quando na oposição; Samuel Johnson (1709-1784) crítico, biógrafo, ensaísta, poeta e dicionarista, considerado uma das maiores figuras da vida e das letras no século XVIII na Inglaterra; Edward Gibbon (1737-1794) historiador, intelectual racionalista inglês, mais conhecido como o autor de The History of the Decline and Fall of the Roman Empire ("História do declínio e queda do Império Romano"), de 1776-88), uma narrative continua do século II DC até a queda de Constantinopla em 1453, e provavelmente também Benjamim Franklin (1706-1790), impressor e editor americano, autor, inventor, cientista, e diplomata, famoso pelas suas experiências com a eletricidade que resultaram na descoberta do para-raios, e que esteve na Inglaterra negociando interesses da América inglesa e depois na França, para garantir apoio financeiro e militar para a guerra da independência dos Estados Unidos.
Ao final de 1767 Smith voltou para Kirkcaldy, onde os seis anos seguinte foram gastos ditando e revisando o "Riqueza das Nações", seguidos por outra estada de três anos em Londres, onde o livro foi finalmente concluído, e publicado, em 1776. Apesar de não ter sido um sucesso popular imediato, o "Riqueza das Nações" foi recebido com admiração pelo largo círculo de amigos e admiradores de Smith.
O ano seguinte ao da publicação do livro Smith foi indicado comissário ambos da alfândega e do imposto do sal para a Escócia, postos que lhe trouxeram um bom rendimento anual. Ele então agradeceu ao duque Buccleuch dizendo que ele não mais necessitava sua pensão, ao que o duque respondeu que seu senso de honra nunca lhe permitira deixar de paga-la. Smith estava portanto inteiramente bem nos anos finais de sua vida, que foi passada principalmente em Edimburgo com viagens ocasionais a Londres ou Glasgow, onde foi designado reitor da universidade. Residia então em Canongate, - a porta dos cônegos -, nome que recebeu o lugar porque era o caminho usual dos cônegos de um antigo mosteiro, depois abadia Agostiniana, entre o mosteiro e a cidade. Por séculos, apesar de adjacente à capital, Canongate foi independente de Edimburgo. Era considerado um lugar ideal para se viver: fora dos muros da cidade; havia mais espaço e contato com a natureza, casas com amplos jardins e pomares. A proximidade com o palácio da corte escocesa em Holyrood havia naturalmente atraído a nobreza para aquele sítio. Escoceses notáveis foram enterrados na Canongate Kirk, a igreja da paróquia local.
No início de 1776, no retorno de uma de suas viagens a Londres, Smith cruzou no caminho com o amigo David Hume que ia à capital, adoentado e esperando que aquela viagem pudesse lhe fazer bem. Por morte de Hume, Adam Smith foi seu executor literário, e adicionou ao "Vida", escrito por ele, uma carta expressando seu julgamento do amigo como "aproximando tão de perto a ideia de um homem perfeitamente lúcido e virtuoso quanto a fraqueza da natureza humana houvera de permitir".
Os anos passaram quietamente, com várias revisões de ambos seus dois principais livros. Em 17 de julho de 1790, na idade de 67 anos, cheio de honras e reconhecimento, Smith morreu. Foi enterrado no pátio da igreja em Canongate, com um monumento simples dizendo que Adam Smith, autor do "Riqueza das Nações", estava enterrado ali.
Assim como Hume, Smith nunca se casou, e quase nada se sabe do seu lado pessoal. Infelizmente seu arquivo pessoal foi destruído, e somente um retrato seu existe, um medalhão de seu perfil de sobrancelhas grossas, nariz aquilino e um lábio inferior saliente. Segundo vários testemunhos, ele era também um homem de muitas peculiaridades: tinha um modo vacilante de falar (até que se aquecia para seu assunto), um modo de andar descrito como "vermicular" e acima de tudo uma cabeça muito distraída. Por outro lado, muitos contemporâneos mencionaram seu sorriso de "inexprimível bondade", seu tato político e seu expediente em conduzir os negócios as vezes difíceis da universidade de Glasgow. Atraiu estudantes de nações tão distantes quando a Rússia e seus últimos anos foram coroados não somente com expressões de admiração de muitos pensadores europeus mas também por um crescente reconhecimento, nos círculos governamentais democráticos, da importância de suas teses para a condução de uma política econômica prática.
  Continua... Época, vida, filosofia e obras de Adam Smith - Parte II.
   Parte II - Leia aqui

  Página escrita por Rubem Queiroz Cobra
  (Site original: www.cobra.pages.nom.br)
  Capturado há muito tempo, no ano de 2010 aproximadamente.
  Cobra, Rubem Q. – Adam Smith. Site www.cobra.pages.nom.br, INTERNET, Brasília, 1997.