Jung Mo Sung

Jung Mo Sung é um teólogo católico e cientista da religião, coreano radicado no Brasil desde 1966 e naturalizado brasileiro.
É professor titular da Universidade Metodista de São Paulo no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião. Desenvolve trabalhos em religião e educação, teologia e economia, igreja e sociedade, neoliberalismo, globalização e solidariedade. Sua reflexão teológica situa-se na corrente da teologia da libertação.

VALORES e Consciência Ética

Autores: Jung Mo Sung e Josué Cândido da Silva -
Livro: Conversando Sobre ética - Ed.: Vozes.
 

Somos seres morais e as comunidades humanas sempre criaram sistemas de valores e normas morais para possibilitar a convivência social, porque somos seres não determinados pela natureza ou pelo destino/Deus. E no processo de conquista da liberdade e do nosso ser descobrimos a diferença entre o ser e o dever-ser e a vontade de construir um futuro diferente e melhor do que o presente. Para esta construção não basta boas intenções, mas também um controle sobre os efeitos não Intencionais das nossas ações e o conhecimento de que o questionamento moral pressupõe um conflito entre interesse imediato e em longo prazo e entre interesse particular e o da coletividade.

A consciência ética que surge desse conjunto é diferente de uma simples assimilação de valores e normas morais vigentes na sociedade. Ela surge-com a "desconfiança" de que os valores morais da sociedade - ou os meus - encobrem algum se interesse particular não confessável ou inconsciente que - rompe com as próprias causas geradoras da moral. Desconfiança de que interesses imediatos e menores são colocados acima dos objetivos maiores, os interesses particulares acima do bem da coletividade, ou que é negada aos seres humanos a sua liberdade e a sua dignidade em nome de valores petrificados ou de pseudoteorias.

"É notório que os ricos, por toda a história, têm praticado o hedonismo radical. Os que possuem bens ilimitados, como a nata social de Roma, das cidades italianas do Renascimento, da Inglaterra e França dos séculos XVIII e XIX, procuraram um significado para a vida no prazer ilimitado. Contudo, embora o prazer máximo no sentido do hedonismo radical fosse prática de certos grupos em determinadas épocas. com uma única exceção [Aristipo. séc. IV aC] antes do século XVII, jamais constituiu a teoria do bem-estar expressa pelos grandes Mestres da Vida na china, Índia, Oriente Próximo e Europa. (... )

Nenhum dos demais grandes Mestres ensinava que a existência factual de um desejo constitui uma norma ética. (...) O elemento essencial de seu pensamento é a distinção entre aquelas necessidades (desejos) que são apenas subjetivamente sentidas, cuja satisfação leva ao prazer momentâneo, e aquelas necessidades profundas da natureza humana, cuja realização é conducente ao aprimoramento humano e produz a eudaimonia, isto é, o bem-estar. (...)

A teoria segundo a qual o objetivo da vida é a satisfação de todo desejo humano foi claramente divulgada, pela primeira vez desde Aristipo. Por filósofos nos séculos XVII e XVIII. (...) O conceito de prazer sem limites constitui uma estranha contradição com o ideal de trabalho disciplinado. Semelhante à contradição entre a aceitação de uma ética de trabalho obsessivo e o ideal de completa ociosidade durante o restante do dia e no período de férias. (...)

Considerações teóricas demonstram que o hedonismo radical não pode levar à felicidade. Assim como não o pode fazer. Tendo em vista a natureza humana. Mas. mesmo sem análise teórica, os dados observáveis mostram da maneira mais clara que nossa espécie de 'procura da felicidade' não produz bem-estar. Somos uma sociedade de pessoas notoriamente Infelizes: solitárias. “Ansiosas, deprimidas, destrutivas, dependentes - pessoas que ficam alegres quando matamos o tempo que tão duramente tentamos poupar”.


FONTE:

VALORES e Consciência Ética Autores: Jung Mo Sung e Josué Cândido da Silva - Livro: Conversando Sobre ética - Ed.: Vozes.

Teologia e economia

Jung Mo Sung especializou-se na relação entre teologia e economia, influenciado por Hugo Assmann, Franz Himkelammert e Júlio de Santa Ana.

Esteve em sintonia com a Teologia da Libertação ao sustentar que a economia é relevante para a teologia. Trata-se de uma posição que tem suas bases no duplo princípio formulado pelo Concílio Vaticano II, que afirmou que Cristo se encarnou no mundo e, portanto, a Igreja deve comprometer-se com o mundo, e na Encíclica Octogesima Adveniens do Papa Paulo VI, que chamou as comunidades cristãs a discernir sobre as opções e os compromissos que devem ocorrer para realizar as transformações sociais, políticas e econômicas que se consideram de urgente necessidade em cada caso (n. 4). Os teólogos da libertação reconhecem a relação intrínseca entre teologia e economia, que seria, na visão destes, consequência direta da fé no "Deus da Vida", não somente da vida espiritual ou da vida eterna em abstrato, mas da vida que abrange a materialidade das necessidades de alimentação, de assistência médica, de moradia, de vestuário, etc., cf. Mateus 25:31-39.

Sung, em sintonia com John Kenneth Galbraith, sustentou que a defesa do neoliberalismo teria um marco teórico semelhante ao de uma teologia, pois se basearia em dogmas, pois a fé na eficiência da "mão invisível" do mercado seria semelhante à fé em um Deus. Jung afirmava que um dos elementos desse marco teórico, seria a insensibilidade diante do sofrimento dos pobres, que não teriam sua dignidade reconhecida enquanto seres humanos. Os Shoppings Centers seriam os templos dessa modalidade de religião idolatrica, baseada no egoísmo, que absolutizaria o consumismo e o "ter" em detrimento do "ser", pois a relevância de um ser se revelaria na medida do que cada "ser" possui.

No campo oposto da teologia neoliberal, que impõe sacrifícios aos mais pobres, estaria a teologia da libertação, para a qual a busca pelo Reino de Deus seria o horizonte que dá sentido à vida dos crentes e à luta contra os sistemas de opressão e exclusão. O Reino de Deus seria fruto da graça e da misericórdia de Deus, que introduziria una práxis de compaixão (cf. Mateus 9:13) que leva os fiéis a se entregar por amor aos excluídos.

Sung também destacava passagens do Antigo Testamento favoráveis aos oprimidos ex.: Êxodo 23:1-12

Sung pode ser considerado um dos principais nomes da 3a geração da teologia da libertação latinoamericana, e está ligado a "Escola DEI", uma escola de pensamento da teologia da libertação que foi constituída em torno do Departamento Ecumênico de Investigaciones, en San José (Costa Rica), -- onde trabalharam Hugo Assmann, F. Hinkelammert, Pablo Richard, Elsa Tamez e outros.