Max Ferdinand Scheler
Max Ferdinand Scheler foi um filósofo alemão, conhecido por seu trabalho sobre fenomenologia, ética e antropologia filosófica, bem como por sua contribuição à filosofia dos valores. (Wikipédia).
Scheler nasceu em Munique, a cidade mais extrovertida da Alemanha. Tinha uma personalidade candente. Sua vida transcorreu entre o mundo acadêmico e a turbulência social e política das primeiras décadas do século XX. Sua inquietação filosófica transparecia em seus atos, em seus gestos, em suas aulas.
Nascimento: 22 de agosto de 1874, Munique, Alemanha
Falecimento: 19 de maio de 1928, Frankfurt, Alemanha
Max Scheler
Max Ferdinand Scheler (1874, Munique – 1928, Frankfurt) procurou corrigir as antigas e frágeis concepções do bem e do dever. No processo, construiu uma teoria universal dos valores e das normas.
Legou à reflexão moral contemporânea as ideias: I) de que a questão da ética é subordinada à dos valores em geral e, II) de que os valores podem ser objeto de uma intuição imediata, oferecida pela via da emoção.
Influenciado por Nietzsche, sustentou – em paralelo à fenomenologia de Husserl – que os valores são objetivos, isto é, autônomos com respeito aos atos com que são aprendidos e independentes das nossas crenças e emoções.
A partir de uma concepção panteísta-historicista, segundo a qual Deus se realizaria progressivamente no âmbito da história humana, os valores opostos são objetivos e não unicamente formais. Daí que a ilegitimidade de os reduzir a objetos de desejo, de aspiração, de repulsa ou de recusa.
Para Scheler, os valores não devem ser confundidos com bens, objetos empíricos. Diferimos o certo do errado, o bem do mal mediante emoções. O não-racional é o meio de acesso primário à ética, irredutível tanto à racionalidade quanto à sensibilidade empírica, e caracterizada pela intencionalidade, o voltar-se para o objeto moral e de lhe dar um sentido.
O ser-valor de um objeto precede à percepção e à valoração. Os bens materiais e imateriais incorporam ou não os valores, que, em si, são absolutos e eternos. Ao contrário do que se tinha como aceito, aprendemos os valores, não os produzimos.
FONTE: https://hermanoprojetos.com/2017/03/31/fontes-da-filosofia-moral-max-scheler/
Capturado em 20/09/2022.
Max Scheler e os graus da vida
O tema “homem” desde tempos longínquos inquietou muitos pensadores, que a seu turno e de acordo com o período em que viveram, pautaram seus esforços em buscar explicações e argumentos que favorecem um verdadeiro entendimento do que vem a ser o homem, o seu destino e a sua finalidade.
Explorar a noção de homem, por meio de uma reflexão antropológica que revelasse, pelo questionamento filosófico, a justificativa da real posição do homem no universo, o que lhe faz diferente dos demais seres vivos, o que lhe comporta tamanha diferenciação, tendo em vista coabitarem o mesmo espaço físico-biológico foi um dos principais intentos de Max Scheler (1874-1928) em sua produção filosófica. Assim, mesmo sendo antiga a indagação sobre o homem, a antropologia filosófica como investigação acadêmica tem a sua instauração recente, sobretudo a partir dos trabalhos do próprio Max Scheler, de modo precípuo com a obra A posição do homem no cosmos (1928), que pretendia investigar e propor uma interpretação sobre a estrutura fundamental do ser humano.
Já no prefácio de A posição do homem no cosmos, Scheler revela o acesso pessoal que teve ao tema, pois segundo ele, “O que é o ser humano? e Qual é a sua posição no ser? ocuparam-me desde o primeiro florescer de minha consciência filosófica de forma mais essencial do que todas as outras questões filosóficas.”[1]
No primeiro capítulo da obra em questão, Scheler, ao designar uma posição particular ao ser humano, especifica a questão acerca da posição do homem no mundo, subdividindo-o numa escala, como que em graus essenciais, que abrangem em primeiro lugar o ser inorgânico, em segundo os vegetais, em terceiro e quarto os animais em seus níveis diversos de desenvolvimento e por fim, já fora do alcance dessa gradação, o homem, pois fora dotado de características superiores e singulares aos demais seres, remetendo tal modelo de graus ao descrito por Aristóteles, sem demasiadas modificações.
O pensador em tela se vale de que a vida é determinada por uma gradação de forças psíquicas, incorporada numa estrutura escalonada do ser. Para tanto, o referido filósofo indica que a vida se coaduna de dupla forma, considerando primeiro, do exterior que se caracteriza pelo automovimento, autoformação, autodiferenciação e autodelimitação de um ponto de vista temporal e espacial; e segundo, considerando a partir do interior, pelo contrário, os seres vivos são determinados por um ser interno para si, no qual tomam consciência de si.[2] Deste modo, a vida possuindo uma unidade biopsíquica tem por significado que todo ser vivo, incluindo os vegetais, tem um lado psíquico, o que encerra o pensamento de Scheler em amoldar uma fenomenologia dos graus da vida como forma a delinear a natureza essencial do homem.
Ao desenvolver uma escala dos graus da vida, que denomina a “construção do mundo psíquico”, perpassa Scheler pela relação dos seres vivos de forma gradual, a iniciar com o impulso afetivo (plantas), o instinto (insetos e animais inferiores), memória associativa (animais superiores) e inteligência prática (primatas). O homem, mesmo participando de modo parcial destes graus, supera-os, ao passo de não ser constado nesta gradação. O homem possui o “espírito” que o coloca numa posição superior, que o capacita além da razão, a intuir, a ter vontade e de sentir emoções.
A conclusão que Max Scheler chega é que o homem possui uma centralidade suprema face aos demais seres viventes, dado pela presença do espírito que lhe permite, além da razão e da inteligência, alcançar o status de ser espiritual. Por meio da elaboração de uma escala da vida, baseada em graus aos moldes como fizera Aristóteles, o referido pensador elenca que, mesmo diante de toda construção do mundo psíquico – plantas, vegetais e animais – a natureza essencial do homem a supera.
Portanto, refletindo sobre A posição do homem nos cosmos, Scheler desenvolve uma valorosa fenomenologia do espírito, demonstrando suas condições peculiares e essenciais, tal qual não se detém em explicar a unidade humana somente, mas se centra em identificar o que é inerente ao homem, o seu diferencial, distinguindo-o de toda a linhagem animal, situando-o no topo da hierarquia dos seres no mundo.
Por: Fr. Bruno Coelho Gonçalves, SAC, aluno do 3º de Filosofia da FASBAM (2022)