Richard Rorty Pragmatismo

A característica marcante do pragmatismo de Richard Rorty é sua ênfase na história. Entre 1972 e 1979, Rorty lançou-se à empresa de tornar o pragmatismo respeitável novamente no cenário intelectual; e o fez tomando como mote de seu pensamento a historicidade de todo conceito e prática: a temporalidade torna-se então o fator diferencial. Meu objetivo neste texto, portanto, é apontar para alguns aspectos do pragmatismo de Rorty durante a década de 1970 que nos auxiliem a vislumbrar em seu percurso intelectual a renovação do questionamento histórico na cultura intelectual americana.
Flávio Silva de Oliveira1 doutorando UFG

(Resumo)


Palavras-chave: Richard Rorty. Pragmatismo. História.


Richard Rorty
Richard Rorty (Nova York, 1931-Palo Alto, 2007) foi um filósofo americano e professor nas universidades de Yale e Virgínia. Foi professor visitante em muitas universidades estrangeiras e é considerado um dos filósofos mais provocadores e estimulantes do final do século XX. Rorty acrescentou uma reviravolta pragmática radical à virada linguística. Ele tinha a convicção pragmatista de que o conhecimento não serve para descobrir os conceitos de verdade, razão e justiça para fazer uma teoria, mas que é uma ferramenta para a multiplicação e disseminação da vida.
Ele não entendia a tarefa da filosofia como uma solução de problemas no sentido tradicional, mas como uma tarefa iluminadora para fornecer ideias. De acordo com Rorty, precisamos responder imaginativamente aos problemas e fazer uma redescrição deles, oferecendo um novo vocabulário; a razão é a capacidade de invenção; somos racionais quando somos capazes de fornecer novas respostas para novos problemas. Rorty atribuiu à literatura um papel importante no processo de aprendizagem moral dos indivíduos.
 

O LUGAR DA HISTÓRIA NO PRAGMATISMO DE RICHARD RORTY


A década de 1970 ficou marcada na cena filosófica americana como o momento de revitalização do pragmatismo. A filosofia analítica, enquanto um projeto profissional e rigoroso que busca demostrar “como a linguagem se relaciona com o mundo”, foi suplantada pelo holismo derivado especialmente de Quine e Davidson. Tal holismo é frontalmente oposto ao pressuposto fundamental da análise linguística: “que as frases verdadeiras se dividem num parte superior e noutra inferior – as frases que correspondem a alguma coisa e aquelas que são ‘verdadeiras’ apenas por cortesia ou convenção” (RORTY, 1999, p. 18). Esse holismo encerra em si uma nova maneira de conceber a linguagem: antes como parte do nosso comportamento do que “como um tertium quid entre Sujeito e Objeto, nem como um médium no qual tentamos formar representações da realidade” (RORTY, 1999, p. 19).

Segundo o ponto de vista holista, a capacidade distintivamente humana de emitir frases é uma das coisas que nós seres humanos fazemos para lidar com o ambiente a nossa volta. Assim, aquilo que Gustav Bergmann denominou de “Linguistc Turn” afastou-se de modo substancial do ideal lógico-positivista inicial, isto é, a “linguagem” “como tornando-nos capazes de fazer perguntas kantianas sem ter que invadir o relevo dos psicologistas falando, com Kant, acerca de ‘experiência’ ou ‘consciência’” (RORTY, 1999, p. 22). Esse motivo kantiano inicial da “virada” foi, graças ao holismo e ao pragmatismo inerentes aos autores citados, transcendido em virtude de “uma atitude naturalista e behaviorista para com a linguagem” (RORTY, 1999, p. 22); conduzindo para uma verdadeira pragmatização da filosofia analítica.

Os esforços mais substanciais para essa revitalização do pragmatismo foram, sem dúvida, os de Rorty, esforços sistematicamente apresentados em Philosophy and the Mirror Nature (1979). A ressurgência do pragmatismo como a contribuição filosófica americana ao mundo é largamente atribuída aos trabalhos do “cavalo de Tróia da filosofia analítica”. O movimento de afastamento do modelo das ciências naturais típico da primeira fase da filosofia analítica em direção às formas de análise mais compatíveis com a hermenêutica e a história foi, para James Kloppenberg, uma reorientação do pensamento rumo ao pragmatismo amplamente difundida por Rorty (KLOPPENBERG, 2000), cuja fonte é sua própria origem intelectual. “Rorty’s historicism has had such explosive force because he attacked the citadel of philosophy from within” (KLOPPENBERG, 2000, p. 27).

Ao empregar métodos analíticos para minar as bases da filosofia analítica, Rorty acabou jogando a filosofia contra si mesma.

Continua...

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FONTE:
Revista Expedições: Teoria da História e Historiografia (ISSN 2179-6386)
Online. Disponível em https://www.revista.ueg.br/index.php/revista_geth/article/view/1491.
Capturado em 19/10/2022.

[1] - Doutorando em História pela Universidade Federal de Goiás. Bolsista CAPES. Universidade Federal de Goiás - UFG / Campus II Samambaia / Faculdade de História- Programa de Pós-Graduação em História. Caixa Postal 131 - CEP 74001-970. Artigo enviado em 14/05/2013 e aceito em 23/08/2013


https://conhecerepensar.wordpress.com/2017/10/12/richard-rorty-e-as-teses-do-pragmatismo/

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