Disso decorre que a alma, como vida, também era constituída de água e, assim sendo, “todas as coisas estariam cheias de deuses”. Dessa forma, pôde Tales declarar que a magnésia (ímã) atrai o ferro por também possuir uma alma. Com isso, Tales inaugura uma nova forma de abordar os fenômenos naturais, buscando encontrar noções de causa e origem para a realidade, mas que fossem explicadas não mais pelos desígnios dos deuses e sim pela observação racional que identifica um princípio oculto que gera todas as coisas.
Por João Francisco P. Cabral
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
Tales, nascido na cidade de Mileto, na região da Jônia, é considerado o primeiro filósofo. Nenhum de seus escritos sobreviveu ao tempo e tudo o que sabemos de seu pensamento se deve a relatos feitos por outros autores. Pensa-se que a época de sua vida tenha se dado no final do século VII a.C. e começo do século VI a.C., talvez nos anos de 624 - 625 a.C. e 556 - 558 a.C.
É conhecido por ser um matemático e físico. Entre suas realizações está a previsão de um eclipse lunar, ocorrido no ano de 585 a.C., e os teoremas geométricos que levam o seu nome. Apesar destes feitos, foi considerado um entre os sete sábios da Grécia por outro motivo, o político. Tales teve atuação política ao tentar unir algumas cidades-Estado para que, integradas, fossem mais fortes em eventual defesa de invasões de outros povos.
Para a filosofia, entretanto, a grande realização de Tales foi a tentativa de explicar o mundo de uma forma racional. É certo que os primeiros filósofos preocuparam-se com as questões relacionadas à physis, a fonte originária do mundo. Nesse sentido, Tales propôs que a origem de tudo está relacionada à água. Não é estranho que Tales tenha pensado ser a água o elemento que deu origem a todas as coisas e o elemento sobre o qual a Terra está colocada, pois podemos encontrar umidade em quase tudo na natureza e observar a importância da água para a vida.
Essa interpretação do mundo foge da usual forma de observar os fenômenos e a natureza de seu tempo. Na época de Tales, a forma de explicar as coisas era através dos mitos, isto é, das narrações fantásticas dos deuses. Ao dizer que um elemento material deu origem a todas as coisas, Tales inaugurou esta nova forma de tentar responder sobre a gênese (início) do mundo.
Aristóteles, anos mais tarde, tentou trazer o pensamento de Tales para fazer parte de sua metafísica, ao afirmar que a fala de Tales sobre a água era uma tentativa de procurar a causa material do mundo. A interpretação de Aristóteles acerca dos escritos do primeiro filósofo não é mais tão aceita entre os críticos e estudiosos da filosofia.
Entre as interpretações e comentários sobre Tales, Friedrich Nietzsche (1844-1900) disse que existem três razões para se levar a sério a ideia de que a água originou tudo. A primeira, porque fala sobre a origem; a segunda, porque não são usadas fabulações; e a terceira, porque foi afirmado que “tudo é um”. Nietzsche explica completando que a primeira razão ainda deixa Tales próximo dos religiosos, a segunda o mostra como investigador da natureza, mas a terceira razão o faz ser o primeiro filósofo.
Filipe Rangel Celeti
Colaborador Mundo Educação
Bacharel em Filosofia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie - SP
Mestrando em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie – SP
FONTE: https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/filosofia/tales-mileto.htm
Tales de Mileto (em grego Θαλής ο Μιλήσιος) foi o primeiro filósofo ocidental de que se tem notícia. Ele é o marco inicial da filosofia ocidental. De ascendência fenícia, nasceu em Mileto, antiga colônia grega, na Ásia Menor, atual Turquia, por volta de 624 ou 625 a.C. e faleceu aproximadamente em 546 0u 548 a.C.
Tales é apontado como um dos sete sábios da Grécia Antiga. Além disso, foi o fundador da Escola Jônica. Considerava a água como sendo a origem de todas as coisas, e seus seguidores, embora discordassem quanto à "substância primordial" (que constituía a essência do universo), concordavam com ele no que dizia respeito à existência de um "princípio único" para essa natureza primordial.
Entre os principais discípulos de Tales de Mileto merecem destaque: Anaximenes que dizia ser o "ar" a substância primária; e Anaximandro, para quem os mundos eram infinitos em sua perpétua inter-relação.
No Naturalismo esboçou o que podemos citar como os primeiros passos do pensamento Teórico evolucionista: "O mundo evoluiu da água por processos naturais", aproximadamente 2460 anos antes de Charles Darwin. Sendo seguido por Empédocles de Agrigento na mesma linha de pensamento evolutivo: "Sobrevive aquele que está melhor capacitado".
Tales foi o primeiro a explicar o eclipse solar, ao verificar que a Lua é iluminada por esse astro. Segundo Heródoto, ele teria previsto um eclipse solar em 585 a.C. Segundo Aristóteles, tal feito marca o momento em que começa a filosofia. Os astrônomos modernos calculam que esse eclipse se apresentou em 28 de Maio do ano mencionado por Heródoto.
Se Tales aparece como o iniciador da filosofia, é porque seu esforço em buscar o Princípio Único da explicação do mundo não só constituiu o ideal da filosofia como também forneceu impulso para o próprio desenvolvimento dela.
A tendência do filósofo em buscar a verdade da vida na natureza o levou também a algumas experiências com magnetismo que naquele tempo só existiam como curiosa atração por objetos de ferro por um tipo de rocha meteórica achado na cidade de Magnésia, de onde o nome deriva.
A Cosmologia
Os fenícios – através de sua mitologia - consideravam os elementos da Natureza (o Sol, a Terra, o Céu, o Oceano, as Montanhas,etc.) como forças autônomas, honrando-os como deuses, elevados pela fantasia a seres ativos, móveis, conscientes e dotados de sentimentos, vontades e desejos. Estes deuses constituíam-se na fonte e na essência de todas as coisas do universo.
Tales foi um dos primeiros pensadores a alterar esses conceitos observando mais atentamente os fenômenos da natureza. A Phisis. O ponto de partida da teoria especulativa de Tales – como também de todos os demais filósofos da escola Jônica – foi a verificação da permanente transformação das coisas umas nas outras e sua intuição básica é de que todas as coisas são uma só coisa fundamental, ou um só princípio (arché).
Dos escritos de Tales, nenhum deles sobreviveu até nossos dias. Suas ideias filosóficas são conhecidas graças aos trabalhos de doxógrafos como Diógenes Laércio, Simplício e principalmente Aristóteles.
Em sua obra - Metafísica, Aristóteles nos conta: "Tales diz que o princípio de todas as coisas é a água, sendo talvez levado a formar essa opinião por ter observado que o alimento de todas as coisas é úmido e que o próprio calor é gerado e alimentado pela umidade. Ora, aquilo de que se originam todas as coisas é o princípio delas. Daí lhe veio essa opinião, e também a de que as sementes de todas as coisas são naturalmente úmidas e de ter origem na água a natureza das coisas úmidas".
Em seu livro – Da Alma, Aristóteles escreve: "E afirmam alguns que ela (a alma) está misturada com o todo. É por isso que, talvez, Tales pensou que todas as coisas estão cheias de deuses. Parece também que Tales, pelo que se conta, supôs que a alma é algo que se move, se é que disse que a pedra (ímã) tem alma, porque move o ferro".
Esse esforço investigativo de Tales no sentido de descobrir uma unidade, que seria a causa de todas as coisas, representa uma mudança de comportamento na atitude do homem perante o cosmos, pois abandona as explicações religiosas até então vigentes e busca, através da razão e da observação, um novo sentido para o universo. Quando Tales disse que todas as coisas estão cheias de deuses, ou que o magnetismo se deve à existência de "almas" dentro de certos minerais, ele não estava invocando as palavras Deus e Alma, no sentido religioso como as conhecemos atualmente, mas sim adivinhando intuitivamente a presença de fenômenos naturais inerentes à própria matéria.
Embora suas conclusões cosmológicas estivessem erradas podemos dizer que a Filosofia começou então com Tales, que ao estabelecer a proposição de que a água é o absoluto, provoca como consequência o primeiro distanciamento entre o pensamento racional e as percepções sensíveis.
A vida dos antigos pensadores gregos é frequentemente conhecida apenas de maneira incompleta. Realmente, os primeiros biógrafos não achavam correto divulgar fatos menos importantes concernentes à personalidade dos sábios. Eles julgavam as descobertas destes homens mais que suficientes para que fossem considerados como seres bastante superiores aos comuns mortais. E, como tais, deveriam ter uma imagem semelhante à dos deuses, sendo desprezados os fatos mais corriqueiros de sua vida. Na política constou que Tales de Mileto defendeu a federação das cidades Jônicas da região do Mar Egeu
Contos
Plutarco disse que Tales certa vez olhando para o céu, tropeçou e caiu, sendo repreendido por alguém como lunático: analisava o tempo para descobrir se haveria uma seca, o que o fez ganhar muito dinheiro. Outros dizem que tendo caído, desapareceu num buraco.
Usando seu conhecimento astronômico e meteorológico (provavelmente herdado dos babilônios), Tales previu uma excelente colheita de azeitonas com um ano de antecedência. Sendo um homem prático, conseguiu dinheiro para alugar todas as prensas de azeite de oliva da região e, quando chegou o verão, os produtores de azeite tiveram que pagar a ele pelo uso das prensas, o que o levou a ganhar uma grande fortuna com esse negócio.
Quando perguntaram a Tales o que era difícil, ele respondeu: "Conhecer a si próprio". Quando lhe perguntaram o que era fácil, ele respondeu: "Dar conselhos".
Interpretação Nietzscheana
"A Filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: "a água é a origem e a matriz de todas as coisas". Será mesmo necessário determo-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e, enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado de crisálida (estado latente, prestes a se transformar), está contido o pensamento: "Tudo é Um". A razão citada em primeiro lugar deixa Tales ainda em comunidade com os religiosos e supersticiosos, a segunda o tira dessa sociedade e o mostra como investigador da natureza, mas, em virtude da terceira, Tales se torna o primeiro filósofo grego". (Friedrich Nietzsche in A Filosofia na Idade Trágica dos Gregos)
Descobertas geométricas
Os fatos geométricos cuja descoberta é atribuída a Tales são:
-A demonstração de que os ângulos da base dos triângulos isósceles são iguais;
-A demonstração do seguinte teorema: se dois triângulos tem dois ângulos e um lado respectivamente iguais, então são iguais;
-A demonstração de que todo diâmetro divide um círculo em duas partes iguais;
-A demonstração de que ao unir-se qualquer ponto de uma circunferência aos extremos de um diâmetro AB obtém-se um triângulo retângulo em C. Provavelmente, para demonstrar este teorema, Tales usou também o fato de que a soma dos ângulos de um triângulo é igual a dois ângulos retos;
-Tales chamou a atenção de seus conterrâneos para o fato de que se duas retas se cortam, então os ângulos opostos pelo vértice são iguais.